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Foto: O senhor Manuel Proença Rebelo lavrando a sua terra
LMCPM - 1982
Até um tempo relativamente recente, a grande maioria das pessoas cumpria o seu ciclo de vida quase sem sair da sua terra natal. Em Caria, como em todas as localidades do interior de Portugal, o dia-a-dia seguia as rotinas do tratamento da terra e do cuidar do gado. Se Deus Nosso Senhor assim o determinasse, recolheriam os frutos do seu esforço e assim sustentavam a sua família. As palavras ajustavam-se às necessidades e a fonética era o resultado de uma combinação de um caldo de cultura que veio de tempos remotos, recombinando-se em cada geração com o que de novo a sociedade ia propondo.
“As novidades”, sempre ocorreram em todas as épocas, mas o ritmo era muitíssimo menor do que atualmente. Com o evoluir dos tempos, sobretudo desde o final do século 19, tudo se alterou de forma progressivamente mais acelerada. A chegada do comboio, a abertura de estradas, o telefone, a rádio, a televisão, a mobilidade das pessoas para centros urbanos ou como emigrantes para “outros mundos” e, claro, as profundas mudanças sociais decorrentes da revolução de 1974, trouxeram uma avalanche de novos hábitos, novas práticas, tornando obsoletas e desnecessárias muitas das palavras que antigamente eram comuns.
Quem como eu nasceu e viveu a juventude numa pequena localidade como Caria até ao início da década de 1980, guarda na memória um mosaico único de palavras que constituía uma espécie de “impressão digital” da terra. Algumas das palavras são conhecidas um pouco por todo o país. Outras são mais específicas, em particular desta região da Beira Baixa. Não houve preocupação em distinguir quanto a esse aspeto, mas tão só registar os termos de uso comum - gíria da minha terra natal, até há cerca de 50 anos atrás.
Este levantamento teve como ponto de partida, para lá da memória pessoal, outros levantamentos disponíveis na internet, em particular dois que são identificados no final desta publicação.
Ti Maria
Numa gravação áudio de 1991, “Cantadeiras de Caria”, na altura vendida no suporte de fita das “velhinhas cassetes” hoje em desuso, Maria Alcina (ver breve nota biográfica no final desta publicação) assume a personagem “Ti Maria”, onde num delicioso monólogo com o ouvinte vai explicando como lhe está a correr dia. Usa como seria de esperar muitos dos termos deste glossário.
Pode escutá-la aqui.
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Sugestões
Todas as sugestões de revisão são bem-vindas. Agradeço que para tornar mais eficaz a comunicação, as sugestões sejam encaminhadas para o meu mail pessoal: lmcpm@sapo.pt
Glossário de termos regionais de Caria / Belmonte
A
Abalar - Partir, ir embora
Abano - Utensílio para atear a fogueira
Acagaçado – Com medo
Acartar – Carregar, transportar
Achanatar - Fazer à pressa
Acunapado - Mal remendado
Acusa-Cristos - Denunciante
Aforrar (as mangas) - Arregaçar
Alancar (com o saco às costas) – Aguentar o peso
Alacrário – Lacrau, escorpião
Alapado – Agachado, à espera, parado
Albarda - Sela rústica para animal de carga
Aldraba – Argola que fica do lado de fora da porta e que rodando faz abrir o trinco interno
Aldravada - Aldrabice
Amainar – Acalmar (muito usado referindo-se ao vento)
Amanhar (a terra) – Preparar a terra para o cultivo
Amargoso – Amargo
Amigar-se – Ir viver com a amante
Amochar – Aguentar um peso com resignação (com frequência associado a cargas físicas)
Amodorrado – Encolhido (por vezes associado a doença febril)
Amolancar / amolancado – Amolgar / Amolgado
Arreado – Vestido (possivelmente por associação jocoso aos arreios dos animais)
Arrelampado – Confuso, zonzo
Arreganhar (os dentes) – Atemorizar mostrando os dentes
Arreganhar (de frio) – estar a tiritar de frio
Arreliar - Provocar outro com o sentido de o irritar
Arremedar – Gozar com o outro, repetindo o que ele diz
Arrenegar – Esconjurar; Amaldiçoar
Arrocho – Pau curvo onde se penduravam os animais para ser desmanchado depois de morto
Arteiro – Vivaço (ex: Veio todo arteiro…)
Artolas – Mariola, armado em esperto
Atão – Então
Atazanar – Espicaçar / Enervar
Atiradeira – Fisga
Atoleimado – Tolo
Aventar – Deitar abaixo, deitar fora
Avesar / avesada (com isto) – Habituar / habituada (com isto); Ex: Avezamo-nos – Habituamo-nos
Asado – Ajeitado; Ter jeito
B
Bácoro – Porco
Badagaio (dar-lhe o) – Desmaiar, ir-se abaixo…
Badameco – Zé ninguém
Bandulho – Barriga (estômago)
Baraço – Novelo de corda
Barbeiro (estar um) – Estar frio
Barda (em) – Em grande quantidade
Bardamerda – (Mandar à) Merda
Barguilha – Abertura das calças
Barroco = Rochedo de granito de grandes dimensões (referido normalmente na sua localização natural)
Bate-cu – Cair de rabo no chão
Bedum - Sabor e cheiro do sebo na carne de borrego ou carneiro
Bento / Benta – Curandeiro, alguém que tem poderes de curar os males do espírito
Bica - Pão comprido e espalmado que se come pelos Santos feito com farinha triga e azeite; Servia de presente dos padrinhos aos afilhados. Fonte com água a escorrer por um tubo, telha, ou uma qualquer conduta que a faz sair da parede, muro ou tanque de onde a água provém.
Bichas – Lombrigas; verme parasita que por vezes se aloja no estômago e intestinos
Bisca – Jogo de cartas; “Bisca lambida” era um termo que derivaria da forma popular em que os jogadores humedeciam os dedos (lambiam) com saliva para melhor manusear as cartas, que se tornavam sujas e pouco higiénicas. Mas antigamente a higiene era um luxo e preocupação de poucos…
Bispo (entrou o) – A comida esturrou
Boa-vai-ela (andar na…) – Divertir-se, vadiar, sem grandes preocupações.
Bocachinho – Poucochinho, Bocadinho
Bôcho – Nome genérico para chamar um cão
Bodega – Coisa imunda
Boer – Corrupção de beber
Bofatada - corrupção de "bofetada"
Bofes – Pulmões
Bolacha / (andar à bolachada) - Sopapo / (andar à bulha dando sopapos)
Bolandas (andar em) – Andar em voltas complicadas
Bolir – (Mexer, incomodar)
Bonda (bem bonda) – Basta, já bem basta
Borco (de) – De barriga para baixo
Bordoada – Pancada com um pau (bordão)
Bornal - Saco em que se levam pertences ou a merenda. Saco com ração que se enfia no pescoço dos burros
Borra-botas – Pessoa sem posses a quem se pretende retirar qualquer valor
Borracho / Borrachana / Borrachão – Bêbado
Borralho – Braseiro na lareira
Borrega – Bolha de água na mão ou no pé
Botar – Deitar algo em algum lugar ou recipiente
Botelha - Cabaça, tipo de abóbora
Botica - Farmácia
Botifarra – Bota grosseira e grande
Braguilha – Abertura da frente da calça dos homens; equivale a “portinhola”
Braveira / apanhar uma... - Estar irritado e barafustar
Bromelho – Corrupção de Vermelho
Brusco (tempo…) – Tempo nublado, escuro, desagradável
Bucha – Bocado de pão com conduto
Bucho - estômago do animal (o termo pode ser aplicado ao nosso estômago - ex: enchi o bucho)
Bufa – Peido
Bulha – Zaragata
Búzio (o tempo estar... os olhos estarem...) - cinzento / enevoado
C
Cabeça de alho chôcho – Pessoa com pouco juízo
Cabo dos trabalhos – Expressão que se refere a algo que foi ou será muito difícil de fazer
Cachaporra – Pancada muito forte
Cachimónia – Cabeça (com o sentido de cérebro – pensar)
Cachopa / cachopo - Rapariga / rapaz
Caco (menino do…) – Menino mimado
Cagaço – Medo, susto
Caga-lume - Pirilampo
Cagança – Gabarolice
Caganeira - Diarreia
Caganeirento – Vaidoso
Caganito – Pequena quantidade de algo
Caguinchas - Medroso
Cagulo (de) – Estar cheio ao máximo (comida tipicamente – não se aplica a líquidos)
Calhoada – Pedrada
Calmeirão – Homem corpulento
Caluda! – Expressão para exigir silêncio
Cambada – Corja; Gente de má índole (aplica-se a um conjunto de pessoas e não individualmente)
Canalha – Crianças pequenas
Cantareira - Armário ou estrutura montada numa parede para colocar os cântaros, sobretudo os cântaros de água (quando a água era recolhida de fontes públicas ou naturais), mas também pratos e copos.
Cantilena - Cantiga
Caracho – Expressão de admiração; Equivale a Carago
Carago - Expressão de admiração; Equivale a Catancho e a um termo ainda hoje em uso com as mesmas duas sílabas iniciais.
Caramelo – Camada de gelo; frio intenso
Cardina - Bebedeira
Carrapato (=Encarrapato) – Carraça de pele lisa; Também se refere a alguém nú
Carrapicha (ir à) – Ir aos ombros (sentado nos ombros) de outro; Normalmente uma criança às carrapichas de um adulto
Carrapito – Arranjo de cabelo das senhoras em que o cabelo fica apanhado por trás e por cima (zona da coroa / occipital) formando um pequeno novelo
Carraspana – Bebedeira
Carrego (Um…) – Carga que seguia um padrão. Podia referir-se a um homem “levar um carrego às costas”, ou um animal, como por exemplo um burro
Carreira - Caminho de passagem, vereda
Carumba - Corrupção de "caruma", agulhas de pinheiro secas depois de cairem ao chão
Cascana - Muco seco do nariz
Cascar (cascar em) - Bater em alguém
Castada - Corrupção de cacetada (pancada)
Casulo (do milho) - Interior da maçaroca
Catano – Expressão de admiração; Equivale a Carago
Catancho – Expressão de admiração; Equivale a Carago
Catita – Bem arranjado; Bonito
Catraio – Garoto
Catrapiscar – Piscar o olho a alguém
Catrefa – Grande quantidade (tipicamente quantidade de gente)
Cavalitas (andar às) – Andar às costas de alguém; tipicamente crianças
Catrino (ai o) – Desabafo; equivale a “Mas que raio!”; Equivale a Catano e Catancho
Chanato - Sapato
Chão – Pequena horta
Chambaril - Pau ou ferro para pendurar o porco após ser morto, para se proceder ao ato de o "desmanchar"; Equivale a arrocho
Chiba – corcunda
Chicha – febra
Chincar – Espetar
Chinfrim - Barulheira /algazarra
Chita - Ficar a zero, por exemplo num jogo / ter um péssimo resultado; "Não ser chita" corresponde por exemplo a não ficar a zero, não ter o péssimo resultado
Côca – Entidade perigosa que se nomeava para assustar as crianças com medo, para não fazerem algo ou não ir a determinado sítio (pois podia vir a côca)
Corricho - Porco
Cravelha – Lingueta (trinco) da porta; tipicamente consta de uma peça de madeira pouco espessa mas robusta, rodando num eixo central
Conduto – Pedaço de comida de origem animal (carne, chouriço…) para comer
Cunapa – Remendo
D
Danado (estar) - Estar furioso;
Derrancado – Extenuado; De rastos
Desandador – Chave de fendas
Desenculatrado – Escangalhado
Desenxabido – Sem gosto
Desobriga – Confissão anual pela Quaresma (para cumprir o preceito – pelo menos uma vez por ano…)
Destrocar (dinheiro) – Trocar tipicamente uma nota de valor elevado por notas ou moedas de menor valor.
Diacho - Forma popular de referir o diabo; Exemplo: "Arre diacho!"; Segundo a tradição não se devem nomear de forma direta os "maus espíritos" pois eles podem acorrer ao nosso chamamento. Por essa razão foram criados diversas outras denominações para que "ele" não vir ao nosso encontro...
Doidana (estar numa) - Estar a comporatar-se de forma irracional
Doidivanas – Pessoa de vida desregrada
E
Emborcar – Beber de forma sôfrega
Empancar – Bater em algo que não deixa avançar ou não deixa abrir da forma normal (por exemplo uma gaveta)
Empanturrado – Cheio de comida até ao limite
Empanzinado – semelhante a empanturrado, mas mais associado a pão
Empata (um…) – Alguém que não se desenvencilha no que devia fazer e atrasa os outros
Empenado – Torcido, torto; Diz-se também de uma mesa ou banco em que as pernas não estão à altura correta, e fica a abanar facilmente
Empinar (bebida) - Beber até à última gota; Termo possivelmente derivado do gesto que será comum fazer de colocar o recipiente na vertical para que tal se faça
Empranhar – Corrupção de emprenhar; Ficar prenhe, grávida
Encafuado – Escondido, oculto; Aplica-se também na simples situação de estar na cama todo coberto com o lençol ou manta (encafuado na cama)
Encalacrado – Estar numa situação comprometedora, difícil de sair
Encarrapato – Nú
Encarrapitar – Colocar / colocar-se por cima, tipicamente numa posição não muito estável. Exemplo: O senhor encarrapitou a criança aos ombros.
Enfarruscar / enfuscar - Sujar com cinza ou pó de carvão
Engonhar - Perder tempo
Enjorcado (mal) - Mal enjorcado = mal arranjado, normalmente referente a "mal vestido"
Enjorcar – Engolir de forma sôfrega
Ensertado – Já aberto (um invólucro que esteve fechado com alguma coisa – tipicamente comida, mas que entretanto alguém já abriu e gastou parte)
Entornado - Bêbedo
Esborralhar – Desmanchar (em partes pequenas)
Esbugalhar os olhos – Abrir muito os olhos (como bugalhos?)
Escanchar – Abrir, alargar, rachar (frase comum “escanchar as pernas” – estar de pé com os pés / pernas afastados
Escarafunchar - Revolver; Esgravatar
Escarcéu – Ruído; tipicamente gritaria
Escarranchado; Estar sentado de pernas abertas (por exemplo montado num animal)
Escarrapachado – Equivalente a escarranchado; Mas também se aplica a um texto, por exemplo de um edital, que se queira dizer que está bem à vista (possivelmente por associação malandra de quando uma mulher de saias está assim deixará algo bem à vista…)
Escava-terra (uma… feminino) – Toupeira
Escápulas – Cápsulas de medicamentos
Escorropichar – Beber até à última gota, deixando o líquido escorrer
Esgalhar – Cortar os galhos (ramos mais pequenos); Também se aplica com o significado de andar de depressa (andar a esgalhar, andar na esgalha)
Esgana – Doença dos cães que lhes afeta a respiração (Nota: Este termo é o usado pelos veterinários)
Esganar – Matar por asfixia; Estrangular
Esgolaimada – Mulher com camisa aberta à frente de forma exagerada tendo em conta as convenções (nos anos 1960 podia ser algo extremamente discreto aos olhos de hoje…)
Esgróviado – Tolo
Esguedelhado – Cabelo desgrenhado
Esmifrar (alguém) – Explorar alguém de forma abusiva; Ex: conseguir obter muitos bens / dinheiro dessa pessoa
Esmoer – Fazer a digestão
Estortegar – Torcer e danificar um membro – Ex: “Estorteguei um tornozelo” equivalendo a “torci / desloquei um tornozelo”
Espichar – Esguichar; Líquido que sai sob pressão de um orifício pequeno
Espinhaço / espinhela – Coluna dorsal
Espojar-se – Rebolar-se no chão e encher-se de pó / areia
Esquecido – Tipo de bolo regional achatado e redondo, com massa parecida com o pão de ló, mas seco
Estafermo – Pessoa de má índole
F
Farrusco - Estar enfarruscado; aplica-se também ao tempo atmofésrico com o sentido de nublado (equivale a "estar búzio")
Fedelho – Criança / miúdo (pejorativo)
Fraldisqueiro – Mal vestido
Fressura - Vísceras
Fumaceira – Fumarada / Muito fumo
Funda – Quantidade de azeite que se teve por uma quantidade de referência de azeitona (Ex: Um alqueire)
G
Gacho (de uvas) - Corrupção de "cacho"
Gadanha - Concha da sopa
Ganas – (dar nas ganas) Decidir-me a … (ter ganas) Ter vontade muito forte de…
Garruço - Gorro, caparuço
Gasganete – Goela / garganta
Gola – Goela / Garganta
Gosma (estar com a) – Estar com catarro
J
Jaja – Fato / Roupa
Javardo – Porco
Jeira - Parcela de terra que se consegue lavrar num dia pelos bois
L
Ladroeira - Ato de roubar (pode não ser o roubo de objetos, mas o de se vender a preço excessivo)
Lanho – Golpe / ferida
Lamúria – Choramingueira
Laréu (estar no) – Conversar (estar a)
Lavarinto (andar num) – Andar em grandes trabalhos e pressas, de um lado para o outro; será uma deturpação popular de “labirinto”
M
Madeiro - Um único grande tronco de árvore, ou vários troncos de menor dimensão mas constituindo um volume igualmente considerável de madeira, o qual é ritualmente colocado a arder na véspera de Natal, numa praça central da localidade, procurando-se que a chama continue acesa até ao ano novo. Constitui um ponto de encontro das gentes da terra, sobretudo no final do dia, reconfortando-as da habitualmente gélida temperatura ambiente.
Mal-amanhado – Feito à pressa
Mal – enjorcado – Mal vestido
Malha (Levar uma) – Levar uma sova
Malina – Doença mortal epidémica (nos animais); muito frequente nos coelhos
Malmandado – Indivíduo desobediente
Malmurcho – Doença que murcha as plantas
Marrafa – Franja de cabelo comprida sobre a testa
Marrano - Porco
Matacão – Alguém corpulento e sem modos / abrutalhado
Matação – Matança do porco
Marreco – Corcunda
Mecha – Pedaço de pano que se põe a arder (exemplo: a tira que está embebida no petróleo – candeeiro de petróleo)
Medrar – Crescer
Melindrosa – Sensível / que fica facilmente afetada (por exemplo com doenças)
Mijinhas (às) – Aos poucos
Miminho do caco – Pessoa mimada
Mingar / Mengar - Minguar; Reduzir para uma quantidade que se prevê que seja insuficiente para as necessidades
Mocho – Banco baixo e pequeno
Monca – Ranho (a pingar do nariz, ficando dependurado)
Mono – Amuado
Mordiscar – Pequena mordidela; Comer um pequeno pedaço de algo, tipicamente pão, cortando apenas com os dentes incisivos
Mosca-morta – Pessoa com pouca iniciativa
N
Nagalho – Pedaço de cordel
Nalgas – Nádegas
Nesga - Parte pequena de algo - exemplo: Uma nesga de terreno;
"De nesga" - Estar de lado, estar de viés;
"Bater de nesga" - Bater de raspão.
O
Ódespois / Osdespois – Equivale a “e depois…”
P
Panada – Pancada ; Exemplo: andar à panada – andar à pancada
Pantanas (ir de) - Cair
Pantominas – Trapalhão
Papo-seco - Pequeno pão de trigo, com uma forma peculiar, em que o padeiro batia com a mão no meio, em jeito de cutelo e puxava os extremos originando o que se denominava as "maminhas"
Pecarricho / Pequerricho - Pequeno
Pedrisco - Granizo
Pelainudo – Alguém com mau aspeto, mal vestido, desleixado
Peneiras / Peneirento – Vaidade / Vaidoso
Penicada - Fezes humanas
Penico - Esterco, estrume (para lá do habitual significado de recipiente próprio para se urinar e defecar)
Pentem – Corrupção de Pente
Pertelinho – Pertinho
Pincho – Trinco
Pindericalho – Algo pendente de pouco valor; Por exemplo uma bugiganga a fazer de colar
Pingarelho (armar ao) – Basófia
Pinoco – Marcador / pino (por exemplo um marco da estrada, ou um pino de um jogo da malha)
Pirisca – Parte final do cigarro, quase todo já fumado (os pobres apanhavam as piriscas dos outros e fumavam-nas)
Pita – Galinha
Pitrol – Petróleo
Poldras – Pedras que se colocavam nas ribeiras, afastadas um pouco umas das outras, mas permitindo passar a pé sobre elas sem se molhar
Portelo – Entrada da quinta
Portinhola – O mesmo que braguilha
Prantar – Colocar algo num sítio de forma muito exposta / que incomoda; Exemplos: “Prantaram-me aqui isto à porta!”; “Estás aí prantado a olhar para mim?”
Q
Quêdo – Quieto; Sossegado
Quelha – Viela estreita
Queimoso – Sabor do queijo picante
Quilhado – Prejudicado
R
Rabicho – Cabelo a fazer… “rabo de cavalo”
Ralado – Preocupado
Raimoso – Picante (ex: queijo)
Rebatinha (deitar à) – Deitar tudo de uma vez para quem quiser apanhar (quando alguém tinha por exemplo cromos de jogadores a mais que já não lhe interessavam, gerava alguma “festa” para os outros deitando-os ao ar e os outros corriam a apanhar)
Recusa (fazer) - Acusação, denúncia
Respigo – Pequena parte de um cacho de uvas
Roçar (o chão da casa) - Esfregar o chão da casa
S
Salta-roscas - Osga
Salvação (dar a) – Cumprimentar (quando se cruza na rua com alguém)
Saraiva - Granizo
Sêmea - Pão de formato médio / grande, arredondado, com uma côr algo escura pois é / era feito com farinha de trigo pouco refinada (dizia-se ser de "farinha de 2ª")
Sobrado – Sótão
Soltura – Diarreia (= Caganeira…)
Somítico – avarento
Sopapo / andar à sopapada - bofetada / andar à bofetada
Sorna (ser um) – Preguiçoso
Sortes (ir às) – Ir fazer exame militar
Sumiço – Desaparecimento
Sucapa (à) - De forma a tentar passar despercebido
Sustância – Comida de maior riqueza proteica (ex: carne, peixe, ovos)
T
Tapada – Terreno agrícola com muro à volta
Tartulho – Tipo de cogumelo
Testo - Tampa da panela
Tinhoso – Nojento
Tomata - Corrupção de tomate
Topadela – Pancada imprevista com os dedos dos pés, a andar, tipicamente bastante dolorosa
Trambalazana – Brutamontes
Trambelho – Juízo
Trampa – Fezes
Trombas (andar de…) – Andar com cara de desagrado
Trouxe-mouxe – Feito rápido sem cuidado
Tuta e meia – Barato
U
Unto – Banha de porco
Úrsula – Corrupção de úlcera
V
Venda (a) – Pequeno comércio / mercearia
Veneta – Fúria
Vianda – Preparo de comida para dar aos porcos, tipicamente uma “sopa” com bastante água, legumes cortados e restos diversos de comida humana;
Vivo (O…) – Animais que se tratam. “Ir dar de comer ao vivo”, significa ir dar de comer aos animais. Porcos, coelhos, galinhas…
Vraveira (estar numa) – Estar bravo, irado – corrupção de “braveira”
X
Xé-xé – maluco
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Foram incluídas sugestões de:
Graça Neiva Correia Ribeiro
Dulce Pinheiro
José Joaquim Pinto de Almeida
Adozinda Pereirinha
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Breves notas biográficas da D. Maria Alcina.
Maria Alcina Cameira Franco Patrício (Caria 1920 – Lisboa 2012), dedicou boa parte dos seus estudos à música e às artes (Conservatório Nacional de Música; Escola de Artes António Arroio). Exerceu diversas atividades sobretudo relacionadas com o ensino de arte e desporto. Escreveu poesia. Teve intervenção política.
Manteve sempre um grande dinamismo demonstrando uma enorme alegria de viver, dinamizando ações na sua terra natal.
Criou o grupo Cantadeiras de Caria, o qual participou em eventos e festivais nacionais e internacionais.
Recebeu da câmara municipal de Belmonte a medalha de mérito municipal.
Foto: Cantadeiras de Caria, cantando as Janeiras, em 1985
Maria Alcina surge com as mãos juntas, sensívelmente ao centro mas um pouco sobre o lado esquerdo
LMCPM - 1985
Agradeço aos filhos Albertina e António a concordância na divulgação da gravação aqui disponibilizada.
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Este levantamento consultou as seguintes páginas da internet. Aos seus autores, manifesto o meu reconhecimento.
Paulo Jesus - pj1966@sapo.pt - http://cidadedacovilha.blogs.sapo.pt/1820.html
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa» - leitaobatista@gmail.com - https://capeiaarraiana.wordpress.com/category/o-falar-de-riba-coa/
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